Descrição
Solos compartilhados, um encontro entre a dobra e a árvore
Sob o tecido da pele, a dobra da árvore mostra quanto tempo tem escondida em seus anéis, seus galhos e olhos. Na árvore da dobra as questões de genealogia e gênero arrepiam os pelos. No encontro entre os artistas Ana e Thiago sobressaem dois temas: o corpo árvore, que reflete sobre a nossa relação com os não humanos, sobretudo com as florestas; e o corpo dobra, que desdobra questões das nossas contradições e complexidades enquanto humanos.
Dobra, uma dança origami
Dobra[rastro|corpo|nuvem|coisa]dura
Solo de dança distópica com exageros e reentrâncias. Dobrar muitas vezes. O corpo, o espaço, a normalidade. Tornar-se muitas, labiríntica, múltipla. Dobrar os ventos, as articulações, as vozes, os sentimentos. Um exercício do olhar: ser-se complexa. Com velocidade atravessar denúncias transformações histórias dores risos ironias.
sobre dobra
O ponto de partida é o dissenso. Quando o assunto é dobra, as reentrâncias e os debates são o que mais interessa. Na luta contra a hegemonia, buscamos a pluralidade de percepções.
O corpo não escapa das estruturas hegemônicas e como performamos o gênero é um lugar de disputa. É no corpo que a hegemonia heterossexual modela questões sexuais e políticas. Não há escapatória subjetiva para quem tem corpo. As regras se deitam sobre todas as instâncias do viver, inclusive as mais íntimas. Unida a essa percepção, considero a relação com a imagem nos tempos contemporâneos, no qual estetizamos nossa realidade, assim colonizando nosso inconsciente.
Como é ser uma pessoa complexa, contraditória, multifacetada nesse contexto? Como borrar o mecanismo de catalogação dos corpos, que têm em si vários desejos, impulsos, posturas e temporalidades?
Deleuze escreveu: “um labirinto é múltiplo porque tem muitas dobras. O múltiplo é não só o que tem muitas partes, mas o que é dobrado de muitas maneiras”. Dobra é isso também, relacionada às muitas faces, dobraduras, modos de ser, existir, imaginar.
E nisso, envolver o corpo inteiro: máscara, respiração, relação do corpo com a gravidade, emoções. E se retroalimentar dos movimentos passados para continuar se movendo. Entender assim a identidade como entropia.
Nesse sentido, Dobra provoca e move representações da mulher em direção a outras maneiras de ser/pensar/fazer.
Árvore-ser
Árvore-ser é uma proposta de investigação corpo/poética que surge no vazio gerado em mim durante a pandemia do Covid-19. A investigação parte do estudo do tempo e a relação com as entidades Árvores que seguem resistindo em meio ao caos das cidades. É como um rito de descoberta desse corpo da espera, corpo que busca as raízes, corpo que denuncia a maneira como seguimos destruindo a natureza e de como as cidades viram as costas para essas gigantescas detentoras de histórias e vida. “Entender é parede: procure ser uma árvore" nos disse o querido Manoel de Barros e com isso me deparo com o devir árvore como propõe Manuel, com procedimentos de investigação em dança e poesia e com isso poder chegar a esse Corpo Árvore que nos diz muito sobre a desconexão corpo/natureza que estamos criando enquanto humanidade.
Ficha Técnica
Dobra, uma dança origami de Nabi Brandão
Dança e concepção: Nabi Brandão
Provocadores: João Rafael Neto e Thiago Cohen
Orientações ópticas: Hélio Brandão
Desenho gráfico: Naiara Rezende e Bernardo Oliveira
Luz: Naiara Rezende e Nabi Brandão
Fotos: Alexandra Martins, Ravena Maia e João Rafael Neto
Apoio: Deslimites Mediações Artísticas, Corpo em Casa e Casa Rosada
Trilha sonora: ASMR de papel dobrando, batidas bineurais, “Beba doida” de Gabi Amarantos, “Depois eu penso” de Zé Cafofinho.
Árvore-ser, de Thiago Cohen
Idealização, Dança e Dramaturgia: Thiago Cohen - @thi_cohen
Fotografia e Filmagem: João Rafael Neto - @dancabmx
Edição e Dramaturgia: Naiara Rezende - @nairezende
Trilha sonora: Vinicius de Souza - @vinilxius
Produção executiva: Veronica Navarro - @veronica_daniela_navarro